Caracteriza-se por sinais clínicos e comportamento de stress que resultam da angústia causada pela ausência, ou falta de atenção, por parte do dono.
Os sinais clínicos mais frequentemente observados são:
- Vocalização (ganir, ladrar ou uivar),
- Eliminação (micção e/ou defecação),
- Comportamento destrutivo (mastigar, escavar, rasgar,…),
Podendo surgir também:
- Salivação,
- Vómitos,
- Diarreia,
- Depressão comportamental,
- Auto mutilação (lambendo-se, mordendo-se, chuchando o flanco, roendo as unhas e cauda, entre muitos outros sinais).
Alguns donos referem mesmo que o seu cão tenta, de uma maneira agressiva, impedir a saída do proprietário. Tipicamente, estes cães são agressivos noutras circunstâncias, e muitas vezes, têm um problema comportamental agressivo, independente de ansiedade por separação.
Normalmente são animais extremamente ligados aos donos, acompanhando-os sempre em qualquer ocasião e para qualquer lugar, por vezes mesmo dentro da própria casa, tornando-se uma verdadeira “sombra” do dono. Muitos donos assumem que o comportamento exibido pelo seu cão é devido ao excesso de mimo que lhe é oferecido, no entanto, mimar um cão não parece estar correlacionado com a incidência da ansiedade de separação. “Dar mimo” não se trata de uma conduta errada, se se mantiver, na prática, a escala hierárquica dentro do referido grupo e se o próprio animal for esclarecido sobre o seu lugar nela, não tentando, por isso, ser dominante em relação a nenhum dos membros da família.
Quando os proprietários se preparam para sair de casa, desenrolando todo aquele ritual já conhecido pelo seu cão, como calçar os sapatos, vestir o casaco, pegar nas chaves, pasta ou carteira, este pode imediatamente dar início ao comportamento ansioso, estimulado por essa pré-separação. Pode tremer, ficar imóvel, salivar em demasia, ficar muito excitado ou mesmo entrar em depressão, limitando-se a baixar a cabeça, orelhas e cauda, e deitar-se junto à porta, por onde o dono irá sair. Os proprietários podem ainda aumentar o sofrimento e as manifestações caninas após a sua partida, se prolongarem a sua saída mediante longas cenas de despedida, aumentando assim a ansiedade do animal.
As manifestações comportamentais relacionadas com a separação decorrem usualmente nos primeiros 30 minutos após a saída do dono. O cão pode começar por ganir no 1º minuto, e em menos de 10 minutos começa a ladrar, seguindo-se atitudes que podem até ser agressivas, traduzindo-se em destruição e auto-mutilação. Aparentemente, alguns cães, relaxam a partir de determinada altura, mantendo-se a descansar ou mesmo a dormir, até à chegada do dono. Normalmente, o proprietário realça excessivamente o seu regresso, sem ter em conta que pode contribuir para a manutenção dos comportamentos relacionados com a separação. As manifestações podem ser dirigidas a uma só pessoa ou a mais, consoante o número de pessoas a que o animal esteja fortemente ligado.
Tratamento
O objectivo do tratamento é o controlo dos sinais de eliminação, destruição e vocalização, através de redução de ansiedade associada à separação do dono.
Educação do Proprietário
O dono tem de tomar consciência que se trata de uma doença comportamental e que na maioria das vezes ele também é responsável. Deve reestruturar a relação com o seu cão, tornando-a mutuamente menos dependente, prestando o mínimo possível de atenção, e tendo um cuidado redobrado para não ceder a nenhum “pedido” por parte do seu animal, até que o problema esteja controlado. A sua irritação e angústia perante os
actos do seu animal aumentam o stress, ansiedade e correspondente destruição por parte do mesmo.
Educação do Canino
O animal deve ser sistematicamente dessensibilizado em relação à saída do dono. Para tal, sugerem-se uma série de situações que, no seu total, permitem chegar a esse mesmo objectivo:
– É muito importante um treino rotineiro de prática de obediência e de brincadeira com truques engraçados para o animal durante 5 ou 10 minutos por dia. O cão deve ser treinado a obedecer a comandos como “senta” e “fica” para permanecer no seu “ninho”, sendo recompensado pelo seu bom comportamento.
– O exercício vigoroso durante um mínimo de 15 minutos diários, através do simples caminhar ou estimular o cão a ir buscar objectos que lhe são atirados, também é importante para o tratamento.
– Deve-se dessensibilizar o cão para a partida do dono, recompensando o animal quando este permanece calmamente sentado durante o ritual de pré-separação, e se o animal se comportar mal durante esta, o proprietário deve falar-lhe de uma maneira fria e inflexível, desprezando-o durante mais de 30 minutos até sair.
– O dono deve simular a sua partida, vestindo o casaco, pegando nas chaves ou realizar as acções habituais ao sair de casa e regressando imediatamente. Estas encenações devem ser repetidas várias vezes, aumentando o tempo de separação e recompensando o bom comportamento do cão, até que o animal fique realmente convencido de que o dono sai, mas voltará para junto dele quando puder. Se a agitação do animal começa de novo a aumentar, é sinal de que o processo de dessensibilização está a ser realizado depressa demais. Deve ser adicionado um novo estímulo que sugira ao animal que se trata de uma situação diferente daquelas em que se tornava destrutivo como quando o dono ia trabalhar, p.e., o som da televisão ou do rádio. Se estes estiverem já ligados, mudar de estação, até que o animal se habitue. Pode também levar uma garrafa de leite ou a saca do lixo, para simbolizar a brevidade da sua separação.
– No início, deve-se evitar mais destruição mantendo o animal confinado, no entanto, o isolamento físico destes cães pode intensificar o seu nível de ansiedade.
– O cão deve ser sempre recompensado pelo seu bom comportamento.
– É útil dar um brinquedo ao animal durante a ausência do dono para que desenvolva uma ligação com ele, auxiliando a transferência da dependência do dono para o brinquedo. Ao roê-lo, ajuda a eliminar o stress, frustração e ansiedade.
– O proprietário deve ignorá-lo durante 15 a 20 minutos antes e depois da saída, o que ajuda a diminuir o contraste entre a presença e a ausência do dono.
– Não se deve castigar o cão pelo que fez durante a ausência do dono, pois o animal não consegue associar a repreensão ao acto que praticou horas atrás.
– Não é aconselhado limpar as fezes ou urina na presença do cão, assim como outras provas das asneiras cometidas, porque para o animal, é uma atitude que demonstra a atenção do dono.
– Quando regressar a casa, o dono é quem deve tomar a iniciativa de fazer festas ao cão e só quando este estiver calmo.
Tratamento Farmacológico
Muitas vezes é também necessário terapia medicamentosa, mas para tal, só o seu médico veterinário bem informado sobre todos os pormenores de comportamento que são exibidos, é que poderá instituir a melhor terapêutica.